quarta-feira, 29 de junho de 2016

O Menino da Laje 8: Tijolo



Em 2012 o amigo/artista Brum criou a série de tiras O Menino da Laje 8 para o jornal Expresso (RJ). A série de tiras apresentam o dia-a-dia do carioquinha Xulé e seus amigos que vivem na comunidade carente do Morro do Estepe Furado. Ao longo dos anos, Brum publicou mais de uma centenas de tiras com o Xulé e teve uma idéia de algo novo com o personagem. Esta idéia foi a Chance pra fazer algo novo com o personagem: Uma série de álbuns apresentando histórias fechadas do Menino da Laje 8. Para aproveitar bem a Chance, Brum uniu forças com o artista Luiz Meira e os dois tem se dedicado ao projeto desde então. Na verdade, a idéia do Brum surgiu desde a criação do personagem mas o trabalho duro com o Luiz Meira só começou alguns anos depois. Durante a produção do álbum, os autores tiveram dificuldades como administrar o tempo em meio a tantos trabalhos e principalmente o problema financeiro. Por isto, o álbum deu um Stand By e surgiu a HQ curta Tijolo, lançado durante a Comic Con Experience do ano passado, com o objetivo de conseguir verba para a publicação do álbum Chance. Comprei a revista um pouco depois do lançamento junto com Hanna no dia do aniversário do Brum.

Tijolos

Brum é um cara muito ocupado e os seus trabalhos, em sua maioria, são voltados para o Humor seja na revista MAD, com suas charges publicadas em jornais, quadrinhos independentes ou em seus trabalhos com tiras. Tijolo é diferente de tudo o que eu já li do Brum. Mesmo depois de ler todas as tiras online do Menino da Laje, posso afirmar que este trabalho é diferente de tudo o que ele fez até mesmo nestas tiras. Ele tem sensibilidade, poesia, uma crítica social fuderosa, várias referências e muito coração. São 12 páginas de narrativa que fluem rápido enquanto corremos junto com o Xulé pelo Morro do Estepe Furado, no Rio de Janeiro. Nestas 12 páginas, Brum construiu, tijolo a tijolo, através de metáfora, uma história que fala da discriminação das classes sociais, violência policial, criminalidade, corrupção, igualdade racial, identidade brasileira (principalmente a carioca), infância, além de esperança e sonhos. Na verdade, a HQ fala bem mais do que isto. Eu apenas listei alguns tijolos presentes na construção da história. A arte de Luiz Meira é bem dinâmica mostrando o Rio de Janeiro e seus moradores de vários ângulos. Um exemplo de como a arte tem uma boa narrativa é a primeira página da história. Nela, o texto fala da diferença de classes através da analogia de que nascemos do barro. Não são mostrados os personagens, mas reconhecemos pelos pés a obra de arte e a obra de alvenaria. E se isto não ficou claro, tudo se esclarece quando o carro sai jogando o barro que cobre totalmente o Xulé (que só deixa de ser invisível na página seguinte e... Nossa este trabalho é poético mesmo e tudo se encaixa perfeitamente).

Vocês sabem que o Chaves mora no 8 e não no barril né?


Uma das sensações legais da história é que mesmo sem nascer no Rio de Janeiro, eu tenho a impressão que estive lá durante uma boa parte de minha vida. A cidade do Xulé é diferente mas, ela apresenta as mesmas coisas boas e más da minha cidade Natal. Eu identifico estas coisas neste tour pelo Rio de Janeiro com o Xulé e acredito que quem nasceu no Rio de Janeiro deve ter um impacto maior que o meu ao ler a história. Outra coisa legal é achar as referências e citações escondidas como, por exemplo, o título da série de tiras que remete ao Chavo del Ocho (aliás, acho que vi o Seu Madruga fazendo um bico pelo Morro do Estepe Furado). Mas o que mais me impressionou foi a capacidade do Brum em  dizer tanta coisa importante em poucas páginas de maneira tão sensível e humana. A única coisa que soa meio estranho na história é que, quando a leio, eu não tenho a impressão de que o Xulé está falando no presente como uma criança e sim como um adulto refletindo sobre a sua própria existência preenchendo seu vazio com as lembranças de sua infância. Pra mim, este é o melhor trabalho do Brum até o momento e estou na torcida para que muitos Tijolos sejam vendidos para que a Chance tão sonhada do Xulé deixe de ser um sonho e se torne realidade. Se com uma revista em formato americano de 20 páginas o Brum fez algo tão humano com o Menino da Laje, estou pensando no que o Brum pode fazer com um álbum gráfico do personagem. E aos que querem conhecer melhor o Xulé, visitem a página oficial do Menino da Laje 8 no Facebook: https://www.facebook.com/omeninodalaje8.

 O Menino da Laje 8: Tijolo

Uma publicação do selo MBP lançada em Dezembro de 2015

Roteiro: Brum
Arte: Luiz Meira
Cores e Edição: Brum



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