Por mais que eu queira assistir Birdman, ao que tudo indica, este vai ser o único filme que concorre ao Oscar que vou ver por aqui em Natal este ano. Pois é.... Três grandes redes de cinema aqui em Natal e praticamente os mesmos filmes passando. Não há concorrência, não há promoções atraentes e todos continuam com o péssimo atendimento de sempre (será que todos tem o mesmo dono?). O único horário disponível aqui foi o de quase 10h da noite pra ser feliz. Vamos lá então! hohohohoho
Alan Turing, o criador das máquinas conhecidas hoje em dia como computadores
O filme é uma cinebiografia que narra sob um ponto de vista humano a vida do matemático Alan Turing. O filme apresenta o Alan Turing (interpretado pelo "Benedito" Cumberbatch) como uma pessoa extremamente obcecada com o seu trabalho. E qual o seu trabalho? Somente construir uma máquina que consiga decifrar os códigos da máquina Enigma dos nazistas durante a 2° Guerra Mundial e salvar um monte de vidas durante o processo. É uma tarefa difícil e para realizá-la ao longo do filme Alan Turing conta com a ajuda de seus amiguinhos (e sua amiguinha também).
Vamos derrotar os nazistas meus amiguinhos!
Aí lendo isso você imagina que o Turing consegue vencer, se tornar herói e ficar com a mocinha pois o amor vence no final não é? Acertaram! Mas não se enganem, pois o filme é bem mais que isso e os clichês aqui são bem utilizados a favor do filme. Ao longo do filme vemos vários aspectos e momentos diferentes da vida de Turing. Vemos seu grande amor no passado, sua grande vitória no presente e sua grande melancolia no futuro em uma narrativa que pontua muito bem a vida deste homem. E algo que é bem pontuado no filme é a homossexualidade de Alan Turing. O filme vai revelando que seu grande amor é um homem (que serve de inspiração para a sua máquina salvadora), que seu casamento foi fachada (algo como duas pessoas que precisavam se ajudar) e não durou muito tempo, e que sua grande vitória de nada serviu para impedir que ele fosse humilhado publicamente e castrado quimicamente pelo país que ajudou a proteger. Sim é um filme que retrata bem a intolerância não só contra os homossexuais como também das mulheres sem esquecer as nuances da personalidade de Turing e seu papel heróico na vida real. É um filme com uma ótima fotografia, com efeitos sonoros bem empregados (principalmente o som do computador), que adapta uma boa história sobre um grande ser humano e com uma atuação muito foda do Benedict. É um filme foda que pretendo rever outras vezes.
A mulher que luta contra uma sociedade opressora e machista no filme pode levantar a mão!
Quem foi que desligou esta bodega?
A intolerância e discriminação com o diferente é algo que continua até os dias de hoje presente em qualquer lugar... até mesmo no cinema! Hoje passei por uma maratona de três filmes bem diferentes um do outro com a Hanna Lauria e o único filme em que passei por uma situação desagradável foi exatamente este. Vamos lá! Eu explico: Hanna Lauria tem Hipotomia Muscular Generalizada, o que acabou ocasionando o seu tipo de Dislexia, que consequentemente causa uma imensa dificuldade em acompanhar a velocidade das legendas. Como tinha bem pouca gente pra ver o filme (10 horas da noite é cruel) escolhi o lugar mais isolado das pessoas para poder ler as legendas bem baixinho no ouvido da Hanna de forma que ela também pudesse se divertir com o filme. Tudo ia muito bem mais aos 42 do segundo tempo quando faltava uns 3 minutos mais ou menos para o filme acabar um homem se levantou da cadeira e começou a gritar absurdamente alto para eu calar a boca (nisso as pessoas ficaram incomodadas, constrangidas e assustadas com a situação). Eu fiquei surpreso pois de todas as pessoas que tinham lá no cinema que estavam bem mais barulhentas ele foi escolher justamente a gente para gritar. Como faltavam poucos minutos, eu disse que depois conversava com ele. Mas acho que o cara não queria me escutar mesmo e ele saiu gritando dizendo que ia chamar alguém pra expulsar a gente do cinema. Como ninguém lá embaixo foi na onda dele, ele tentou ver se me irritava ficando em pé bem na minha frente. Quando o filme acabou, pacientemente eu expliquei a situação em um tom de voz bem baixo mas ele preferiu seguir com a sua raiva descendo irritado pelas escadas (ao menos a mulher que o estava acompanhando parecia ter entendido bem). Quando estava saindo do cinema, um cara tinha dito que tinha visto tudo e que não valia a pena ficar batendo boca além de confirmar que nem ouviu o que eu sussurrava para a Hanna no cinema. Pois bem, foi isso. Espero que mais pessoas vejam O Jogo da Imitação e, diferente do cara que ficou gritando, entendam a mensagem do filme. Eu não me sinto culpado de ter lido o filme para Hanna (que amou o filme) mas fiquei muito frustrado pela Hanna ter passado por este constrangimento e ter se sentido envergonhada por algo que não deveria estar.
Me solta! Eu preciso falar sobre intolerância no cinema!
Natal deveria ter mais opções para os chamados filmes de arte (colocados estrategicamente em apenas uma sala e nos piores horários possíveis), deveria ter ingressos mais acessíveis e mais opções de filmes dublados para que mais pessoas possam se divertir com o filme. É algo lógico, mas as grandes redes de cinema não tem esta visão, e preferem empurrar o que for lucro certo independente da qualidade do filme (e oferecer "aquele" atendimento). Mas o que me incomoda mais é a intolerância das pessoas em relação as outras em qualquer lugar do mundo. Cara, eu ainda acho uma estupidez gigante uma pessoa achar que é superior a outra por ver filmes cult legendados não perceber que se estes filmes fossem mais acessíveis à todos (nunca subestimem o público) eles chegariam com mais facilidade e teriam mais salas por aqui. Se o mundo fosse mais humano, eu não teria que escrever este longo parágrafo para dizer que já não bastasse as coisas ruins do dia-a-dia eu vou ter que pensar duas vezes antes de ir no cinema com Hanna ver um filme legendado para não ser agredido verbalmente ou fisicamente dependendo da pessoa. Ao menos ainda tem Netflix (que já sacou isso sobre dublagem e inclusão social há muito tempo) e o bom e velho DVD além da Internet claro! Mas porra, eu realmente queria que as coisas mudassem pra melhor, ao menos para poder curtir o entretenimento que o cinema tem a oferecer aqui em Natal.
O Jogo da Imitação
Ano: 2014
Diretor: Morten Tyldun
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