A companhia de dança contemporânea Gira Dança foi criada em 2005, em Natal (RN), pelos Bailarinos Anderson Leão e Roberto Morais. Sua estréia nacional ocorreu em Maio de 2005, no Rio de Janeiro, durante a Mostra Arte, Diversidade e Inclusão Sócio-Cultural e, desde então, o Gira Dança tem se apresentado em diversos palcos no Brasil e no mundo com novos espetáculos, participando de festivais e ganhando prêmios ao longo destes 7 anos de atividade. O Gira Dança é formado po bailarinos de corpos diferenciados utilizados como ferramenta para novas experiências, rompendo preconeitos, limites pré estabelecidos e criando novas possibilidades dentro da dança contemporânea.
O elefante é um animal rico em signos em diversas culturas e durante o espetáculo são apresentadas aquelas situações incômodas em que vemos aquele elefante na sala, o grande problema, que tentamos ignorar, mas que está ali lembrando (o elefante nunca esquece) que o problema é real. Este elefante na sala é um elemento presente em diversos países onde certos assuntos são evitados de ser comentados, mas que fazem parte de sua história e do seu cotidiano.
O espetáculo de dança Proibido Elefantes, que celebra 7 anos do grupo, apresenta um olhar sobre a vida dos bailarinos à partir da metáfora de restrição ao diferente presente no termo Proibido Elefantes. Este é o termo utilizado para restringir o acesso, impedir o transito livre do animal que serve como meio de transporte na índia, mas que causaria transtornos em outras localidades.
Proibido Elefantes
Na África do Sul, não muito distante da índia, o
regime totalitário Apartheid, se utilizou de leis que impediam o livre trânsito
de negros com placas para restringir o acesso de Não-Brancos à área povoada por
Brancos para, segundo o seu manifesto político: “A política de segregação
racial se baseia nos princípios cristãos do que é justo e razoável. Seu
objetivo é a manutenção e proteção da população européia do país como uma raça
branca e pura e a manutenção e proteção dos grupos raciais indígenas como
comunidades separadas em suas próprias áreas...”. O que aconteceu na África do
Sul com o regime de segregação racial do Apartheid não é muito diferente do que
aconteceu e acontece em outros países.
Placas restritivas na África do Sul
O elefante pode mudar, mas a restrição de acesso a ele enquanto houver intolerância, preconceito e discriminação permanece. No espetáculo de dança são apresentados os elefantes dos bailarinos e de como estes elefantes conseguem se locomover com as restrições que surgem diante deles.
Os bailarinos do Gira Dança se apresentaram com um figurino em tons de preto branco e cinza e contaram com uma iluminação que favorecia a forma de seus corpos.São utilizados poucos objetos em cena no espetáculo priorizando boa parte dos elementos simbólicos através dos movimentos corporais dos bailarinos. Todos os elementos tiveram sua funça no espetáculo mas, destes elementos o que me chamou mais atenção foi a narração.
A narração é utilizada na cena inicial do espetáculo de dança onde a bailarina, que só percebi que tinha deficiência visual quando foi dito ao final da apresentação, dançou utilizando um cilindro na cabeça em quanto outro dançarino narrava os seus movimentos. De início eu tinha entendido o porquê da narração: para guiar a pessoa com o cilindro na cabeça que a impede de enxergar. O que eu não tinha entendido muito bem era o porquê de a narração continuar mesmo sem o cilindro na cabeça da dançarina. Quando foi dito que a bailarina não enxergava foi que compreendi que ela estava com o cilindro na cabeça todos os dias de sua vida e não somente naquele momento. E não, eu não consegui atentar para a deficiência visual da bailarina durante o espetáculo inteiro. A narração dos movimentos dos bailarinos que permaneceu durante quase todos os momentos da apresentação me remeteu ao nosso dia a dia onde recebemos diversos comandos. Uma imagem que ficou bem forte foi quando fiz um estágio desagradável onde recebia dois comandos aos gritos de colocar o fio e tirar o fio como se eu fosse uma máquina condicionada a fazer isso através de berros estridentes. O que tornou a narração interessante para mim foi que ela não foi feita de forma muito rígida e variava de termos técnicos para termos informais como se uma criança estivesse narrando o que está vendo. A sonorização com músicas e efeitos sonoros de ruídos também foi bem aplicada aparecendo e desaparecendo sem distanciar a atenção para o que estava acontecendo em cena
A cena do Patins foi a mais divertida de todas me remeteu bastante a infância, a cena do salto alto elegante também foi divertida e nela que estava um dos discursos mais fortes do espetáculo de dança.
Um aspecto estético muito interessante foi quando dois corpos de tornaram um através de um equipamento adaptado na roupa para isso. Os movimentos dos dois bailarinos eram fluidos e conduziam o espectador para ver o elefante.
As placas espelhadas e diversos objetos que estavam nos dois lados do palco me surpreenderam porque não foram utilizadas mais como elemento visual e sim como elemento sonoro à medida que as moedas eram jogadas para o ator cadeirante no centro do palco. Remetendo a toda aquela situação do coitadinho que estou ajudando ao jogar uma moeda dando uma roupa ou objeto.
Dede o início até o final da apresentação existe um discurso forte na apresentação e ele é de que os corpos-sujeitos estão se auto afirmando “Eu estou aqui” “Eu posso fazer isso” “Quem disse que eu não posso dançar?”. Cada corpo ali tem a sua história e limitações que podem ser evidentes como a pouca altura, a cegueira ou a deficiência nas pernas ou não tão evidente como nos bailarinos “normais”. Todos os corpos dançantes nos mostram suas diferenças e semelhanças com os espectadores o que torna o espetáculo bem intimista. No final de tudo o grande elefante que é proibido no espetáculo é o do preconceito, a intolerância e a falta de compreensão do outro.
O Gira Dança desde a sua criação ao desenvolver seu trabalho inclusivo de portadores de deficiência seguiu em frente e enfrentou diversos obstáculos para alcançar seus objetivos. É um grupo competente que trabalha de maneira educativa respeitando aspectos de corpo, gênero, etnia e inclusão social. O que é apresentado neste espetáculo, e em outros trabalhos do Gira Dança como A Cura, é o quanto existe uma pluralidade de corpos dançantes (corpos diferenciados) e de como nosso corpo-sujeito é semelhante e diferente do outro ao dialogar com o que é apresentado. E com este espetáculo (que ficou foda pra K-Ray) ficou mais evidente ainda o porquê do Gira Dança ser um dos Elefantes Brancos do RN motivo de orgulho e que precisa ser bem cuidado e valorizado. E o que o Gira Dança apresentou aqui não deve em qualidade para nenhuma companhia de dança no mundo. Elefantes Brancos são raros. Para conhecer melhor o Gira Dança, visitem este endereço eletrônico: http://www.giradanca.com/.
Proibido Elefantes
Diretor Presidente: Roberto Morais
Diretora Financeira: Cecília Amara
Consultoria Administrativa: Christiane Alecrim
Concepção, Coreografia e Direção: Clébio Oliveira
Direção Artística: Anderson Leão
Assistente de Direção: Anizia Marques
Assistente de Coreografia: Ciro Ítalo e Rozeane Oliveira
Bailarinos/Criação: Álvaro Dantas, Jania Santos, Joselma Soares, Marconi Araújo, Rodrigo Minotti r Rozeane Oliveira
Produção Executiva: Celso Filho
Trilha Sonora Original: Toni Gregório
Figurino: Loros Haas
Colaboração: Daniela Fusaro
Design de Luz: Ronaldo Costa
Operação de Luz: Anderson Rodrigo e Janielson Silva
Fotografia/Vídeo: Rodrigo Sena
Edição de Vídeo: Ruda Virginio
Programação Visual: Anderson Leão
Assessoria de Imprensa: Gustavo Farache
Professores de Condicionamento Físico: Gleydson Dantas e Ricardson Silva
Professora de Dança Contemporânea: Anízia Marques
Elenco:
Alexandre Victor
Álvaro Dantas
Caio Macário
Dyana Prince
Jania Aantos
Joselma Soares
Marconi Araújo
Rodrigo Minotti
Rozeane Oliveira
Wilson Macário
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