"Nascido em 1915 em São Paulo, Paulo Silva sempre mostrou frágil compleição física, o que sempre lhe causou forte complexo de inferioridade. Para lidar com a frustração, engajou-se em movimentos políticos, sempre com o ardente desejo de fazer algo por seu país. Nos anos 1930 acabou filiando-se ao Movimento Totalista, surgido em São Paulo e que logo atingiu os outros Estados. Na mesma época, um grande cientista brasileiro ganhava destaque: Dr. Janus, cujo irmão era um dos principais industriais e empresários paulistas. Através do Movimento Totalista, o Dr. Janus e Paulo Silva conheceram-se e aquele tornou-se uma espécie de mentor e, até, de "pai adotivo" de Paulo. A pedido do partido, e desejoso de aprofundar pesquisas que já vinha desenvolvendo, influenciado, dentre outras, pelas leituras de Nietzsche, Dr. Janus desenvolve um tratamento capaz de dar a uma pessoa capacidades físicas e intelectuais muito superiores a de um ser humano, transformando-o numa espécie de super soldado. Vários integrantes do partido se voluntariaram para os testes, inclusive Paulo da Silva, mas só este sobreviveu aos testes, tornando-se o heroi que o Movimento Totalista buscava. Paulo adotou o codinome Capitão Delta e passou a combater com sucesso criminosos, mas também comunistas, anarquistas e todos aqueles cujos ideais políticos contrariavam os do partido e também do governo Vargas" Como devem perceber no texto de apresentação do personagem da página do Chroma, Capitão Delta é uma releitura do Capitão América contextualizada historicamente nos tempos da ditadura de Getúlio Vargas. A figura do (anti) herói dentro deste período histórico quebra a idéia do bem contra o mal e deixa as coisas em um tom mais cinza mais interessante.
"Eu e o Capitão Delta mandamos um abraço fraternal ao "Capitão" Cabra! (Alexandre Garcia da Silva)
Capitão Delta tem uma premissa bem interessante mas o desenvolvimento não funciona tão bem quanto a idéia. O grande ponto fraco da revista está na arte de Alexandre, que está bem mais fraca nos desenhos e arte-final em relação ao Crônicas de Piápolis. Uma história que apresenta ação precisa de desenhos mais dinâmicos que passem a idéia de movimento. Os personagens estão bem caracterizados, os ambiente estão bem definidos mas falta um pouco mais de cuidado tanto na arte como na narrativa de quadrinhos. É um gênero diferente e tudo aquilo que funciona perfeitamente em Crônicas de Piápolis, não funciona aqui. Outro ponto importante é que o visual do "herói" mascarado não tem tanto impacto quanto o do vilão e criador do "herói" Garra Cinzenta, sendo pouco atrativo. Quanto ao roteiro, a atmosfera do ambiente e o personagem estão bem apresentados, mas várias escolhas não funcionam tão bem. O texto introspectivo funciona muito bem em alguns momentos, pois, passa informações importantes sobre o passado do (anti) herói e acontecimentos que são relevantes para o andamento da história. Já com os diálogos não é a mesma coisa. Principalmente o diálogo de Paulo com os bandidos. Mesmo os jornalistas, em alguns momentos, o diálogo soa um pouco forçado. Parece que eles já leram todas as histórias do Capitão Delta para estarem tão por dentro de tudo e terem um panorama tão grande das coisas que estão acontecendo. Mas existem momentos de bons diálogos como o do jornalista Chicão com o sargento. Em suma, Capitão Delta é uma boa idéia que precisa ser melhor executada. A contextualização histórica, o conflito de ideais apresentado, a promessa do herói como figura trágica e a escolha do Garra Cinzenta como "vilão" apresenta um leque de possibilidades de histórias instigantes e memoráveis. Sem falar do visual que pode ter uma estética bem próxima dos pulps mas em outro contexto. Quanto a edição e design da revista a minha impressão é a mesma das Crônicas de Piápolis #1 e #2. Outra coisa que me agradou na revista é que ela não apresenta a xenofobia e patriotismo exagerado (salvo o contexto da história) que vejo em outros títulos brasileiros do gênero. Estamos no século XXI e mesmo o mercado de super-heróis americano está se reinventando constantemente na busca de atingir uma diversidade maior de leitores. Muitas HQs de super-heróis brasileiros que leio pararam no tempo e são cópias descaradas de outros heróis americanos sem apresentar nada de novo e original. Estão presos à década de 30 ou de 60. Capitão Delta se passa no período de tempo da década de 30 a 40 e a origem é a mesma do Capitão América. Mas sabem qual o diferencial? É intencional! Tudo é apresentado ao leitor durante o prefácio. E dentro deste período de tempo o Garra Cinzenta não fica fora de contexto. Inocentes Trucidados é a primeira parte da história "O Herói Monstruoso". Fica o questionamento se o cálculo do Delta vai ser encontrado rendendo boas histórias executadas de maneira heróica pelo autor.
Capitão Delta- Volume 01
Uma publicação feita em conjunto com o Projeto Chroma e lançada em Novembro de 2015
Roteiro e Arte: Alexandre Garcia da Silva
Edição e Design: Thiago Silva
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