terça-feira, 24 de novembro de 2009

I Concurso Desenhe a Prosa e a Poesia Potiguar Contemporânea


No dia 15 de Maio de 2007, aconteceu a premiação do concurso Desenhe a Prosa e a Poesia Potiguar Contemporãnea. Nessa edição, o desafio dos desenhistas foi quadrinizar o conto Fugas, do Rodrigo Levino, o treco do romance Lítio, do Patrício Junior e o poema Eu, de Milena Azevedo. O júri foi formado por Luiz Elson (prof. de desenho), John Alex Xavier (prof. de história da arte) e Alexandre Honório (jornalista e leitor assíduo de HQs). Os prêmios foram livros e álbuns doados pela Conrad Editora. Gostei pra caramba de ter participado, aprendi coisas novas (ler edital com calma por exemplo) e me diverti fazendo a HQ. Achei legal ter ganhado em terceiro lugar (foi mais uma consequencia do que um objetivo, participei mais para me divertir e mostrar meu trabalho) e aproveitei bem os prêmios que recebi da Conrad (li no mesmo dia, o bom é que eu não tinha gastado a grana que tinha juntado pra comprar exatamente os livros que ganhei). Os outros vencedores do concurso foram Wanderline Freitas e Victor Negreiro. Já falei dos dois por aqui. São dois grandes artistas no qual admiro muito o trabalho e já falei tanto que nem sei mais o que dizer sobre eles. Houve uma segunda edição do concurso no segundo semestre deste mesmo ano, com mais participantes e novos ganhadores (que não participei porque já tinha ganhado na primeira edição).

1) Quadrinização do poema EU, por Victor Negreiro.

2) Quadrinização do poema EU, por Wanderline Freitas.

3) Quadrinização do romance Lítio, por Joseniz Guimarães.


Abaixo o trecho do romance que adaptei:

Trecho do Romance base para a primeira edição do concurso:
Desenhe a Prosa e a Poesia Potiuar Contemporânea


Lítio- Patrício Junior

“(...) ‘Não sei, sinceramente, de onde vem esta minha incapacidade de lidar com coisas tão fúteis como pagar contas, por exemplo. Por que pagar contas é tão difícil pra mim? Por quê?! Quero que alguém responda, qualquer alguém, até mesmo você aí, sim, você mesmo, até mesmo você serve: por que pagar contas é tão difícil? Deve ser alguma coisa com a obrigação, com o prazo, com a incapacidade de protelar. O problema é o juro: a quantia que já paguei de juros na minha vida daria para comprar tudo que já comprei por duas vezes. Meu sobrenome, agora sei, devia ser Incapacidade. Sr. Incapacidade. Esta palavra combina comigo, com minha vida cheia de inércias e com o fato de eu ter me deixado levar pelos dias, sem grandes ambições, por tanto tempo, para depois formular grandes ambições e ver que é menos doloroso não ter ambições. Sim, é isto que lhe digo. Exatamente isto! Antes, eu me deixava levar. Não procurava namoradas, emprego, estudos, aprovações, grandes realizações. Simplesmente, me equilibrava entre as horas sem nada esperar do instante seguinte. E isto me fazia sangrar menos. Até que um dia as coisas começaram a se encaixar. Um emprego, uma grande mulher chamada Marina Galhardo Albuquerque, grandes realizações, enfim, perspectivas. E eu comecei a apostar: comecei a colocar minhas fichas em mim mesmo, a gostar de mim, a me sentir grande e útil e único e interessante e eficiente e promissor e com futuro e responsável e talentoso e alegre, simpático, extrovertido, inteligente, adulto. Então, ao exacerbar minhas qualidades, tornei-me a vítima preferida delas. Aos poucos, descobri não ser um super-homem. Aos poucos, descobri não me encaixar em nenhuma tribo. Um yuppie? Um hippie? Um pacifista? Um neonazista? Um almofadinha? Um alternativo? Não era porra nenhuma, nada disso. Aos poucos, percebi que não deveria ter criado tantas expectativas acerca do meu desempenho no mundo adulto, porque acabei me cobrando demais e tomando para mim responsabilidades maiores do que o alcance dos meus dedos. Então, doeu. Doeu de uma forma aguda e intensa. Hoje, minha alma sofre de lesão por esforços repetitivos. Ela dói ao menor sinal de carga: seja ter animação para ir ao cinema, seja ter esperanças de que o mundo não vai acabar numa porra de uma guerra nuclear. Eu não devia ter criado expectativas porque despenquei de uma altura grande demais: a altura a que um sonho pode alcançar. Qual será essa altura? Há um limite? Seremos capazes realmente de pôr em prática aquilo que lemos em volumes de auto-ajuda?: sonhar com o pé no chão, não desejar o impossível, ter força e perseverança para lutar, saber a hora certa de recuar, agir durante todas as vinte e quatro horas diárias de uma maneira que mescle intuição, cognição e racionalidade. Por isso me chamo Sr. Incapacidade. Porque exigi demais de mim mesmo e, juro por Deus, sou o pior quando me ponho a cobrar. De todos que me julgaram e me condenaram, confesso, sou o pior’; sim, ele diria tudo isto. Diria. Pra transformar isto em presente, em ‘diz’, seria necessário mais que força de vontade. Seria necessário apagar toda a sua trajetória, todas as tatuagens – físicas e psicológicas – pra começar de novo propondo-se ser outro homem. E isto, infelizmente, não é mais possível a esta altura do campeonato.”

PATRICIO JR. Lítio. Natal: Jovens Escribas, 2006. p 110-112

Abaixo a quadrinização que fiz para o Romance:





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