A série Luz nas Trevas é uma grande história sombria e iluminada ao mesmo tempo. A história é composta por uma série de histórias fechadas aparentemente sem conexão entre os personagens, mas no decorrer da série irão ocorrer ligações entre histórias e personagens. A história não é focada em um personagem fixo, mas alguns personagens podem aparecer em mais de uma história, não necessariamente a história seguinte. São histórias curtas, longas, individuais ou em série apresentando variados gêneros de histórias (cotidiano,terror, noir, ficção científica... tem até comédia romântica). Hoje irei falar do processo criativo da história Sempre o Mesmo Sonho da série Luz nas Trevas. A história possui roteiro de Joseniz (aka eu mesmo) e arte de Leander Moura e foi publicada no dia 24 de Dezembro de 2013 neste infame blog.
Joseniz Moura e Leander Moura (não somos parentes)
Para a criação da história tive como base um evento perturbador de meu passado. Um sonho partilhado que tive juntamente com a minha ex-namorada Artemiz há muito tempo atrás. O sonho foi o mesmo da história, se repetiu por mais de um mês e surgiu em um momento complicado de nossas vidas. Eu ainda me lembro da surpresa que tive quando ela descreveu o seu sonho em detalhes e reconheci como o mesmo sonho que eu tive. Sim! Como já devem ter notado, eu e Artemiz fomos as referências visuais para esta história (como não tinha fotos da Artemiz, fiz uma descrição visual dela para o Leandro).
É... Eu sei que devia ter enviado uma melhor referência da gente para o Leandro trabalhar
Existe um terceiro personagem na história que é o ponto em comum entre os dois jovens: O Coletor de Almas também conhecido como Shinigami, o anjo das Trevas e da Luz, o ceifeiro... A personificação material da morte. Como disse anteriormente, alguns personagens aparecem mais de uma vez na série e a morte com certeza é um personagem que vocês irão encontrar em outras histórias apresentando aspectos da morte. Aqui a morte foi apresentada em um aspecto onírico. A morte pode assumir várias formas e foi um desafio visual pensar em como ela seria representada nesta história. Seria representada como um homem? uma mulher? algo andrógino como no filme A Paixão de Cristo que apresentei para o Leandro como referência? No final das contas, Leandro apresentou uma ótima solução visual da morte para a trama que casou perfeitamente com a narrativa da história.
A morte terá outras histórias contadas na série Luz nas Trevas
Storyboard de Leander Moura para a história |
"Homens e mulheres tem reações diferentes diante de uma situação" (Cristal Moura)
Outra alteração bacana no storyboard foi a solução encontrada para mostrar o bebê. Tanto eu como o Leandro achávamos mostrar o bebê morto algo forte e gratuito demais então concordamos que seria mais interessante não mostrar nada usando apenas um quadro escuro sem nada a ser preenchido pela imaginação do leitor. Já o Leandro enquanto trabalhava teve um estalo e disse "é isso!" e fez a representação através de dois objetos danificados representando o menino/menina. é uma ótima forma de mostrar sem mostrar apresentando algo forte e doce ao mesmo tempo. A representação do bebê com um dos lados apresentando seu rosto belo e do outro a caveira também foi uma boa solução pois remete à simbologia dos brinquedos, ponto de vista dos personagens, simbologia do passado/futuro e não mostrou o bebê morto.
Leander realizando a etapa de pintura da história Sempre o Mesmo Sonho
Com o storyboard definido, Leander seguiu direto com a pintura e teve todo o cuidado de selecionar bem as cores para que elas também fossem simbólicas. Após pintar Leander escaneou as artes e cuidou da arte digitalmente tratando as cores, profundidade, aplicando texturas e outras coisinhas... A arte finalizada foi enviada para mim apresentando muito mais impacto visual dando mais poder às cores e influência na narrativa. Com a arte do Leandro finalizada segui com o letreiramento da história buscando uma fonte que se adequasse e fosse legível. Só um detalhe: As letras nos quadrinhos não servem só como texto você tem que ver elas como imagens e o posicionamento das letras podem matar ou salvar uma narrativa. Quando o Leander me apresentou a arte completa, tive que quebrar a cabeça para encontrar uma solução para o letreiramento, pois o texto também deve servir a narrativa. Se modificar a arte para favorecer a narrativa vai ser demasiadamente desgastante é óbvio que a solução está em modificar o texto para servir a arte. Os dois devem se complementar como um só na história. Como sempre digo, a partir do momento que entrego um roteiro para alguém desenhar ele não é mais um trabalho meu e sim algo nosso feito em parceria em favor da história. Este meio-que-em-off apresenta bem o que é isso. Não seria a mesma história se o Leandro não tivesse sensibilidade artística para alterar o que achasse necessário para enriquecer a narrativa. Espero que tenham curtido e até o próximo meio-que-em-off.
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