Depois de ter ido ao lançamento em Maio, finalmente tive a oportunidade de ler com calma a revista Tempestade Mental de Renato Medeiros e Rodrigo Xavier. A HQ é ambientada em Natal, onde uma grande tempestade está acontecendo ao mesmo tempo em que um homem está em estado vegetativo, em um hospital. A sequência inicial de abertura da história que apresenta o homem em coma é ótima! Ela emprega bem os recursos narrativos de uma história em quadrinhos e prende a atenção para o que virá a a seguir. E o que vem a seguir? A apresentação de três personagens importantes na história. Cassio, que trabalha pra seus superiores (que devem ser muito fuderosos por conhecerem bem o tecido da realidade) , e Paulo César (aka P.C.) o nerd que cria o aparelho para entrar no mundo dos sonhos do homem que está no hospital. Aliás esta é a missão deles pois Mateus, o comatoso, coloca em perigo o tecido da realidade e tem um estranho (o terceiro personagem importante da história que eu ainda não tinha falado) na cabeça dele com más intenções. A história tinha tudo pra ser uma grande história de terror com pitadas de Ficção Científica, pois mistura elementos do imaginário e da realidade, além de apresentar um vilão antigo digno de livros do Lovecraft. Mas não é! É uma historia de Ficção Científica de filmes B (ou Z ou Trash fica a sua escolha) com elementos de terror. E eu gostei muito disso!
Escala Glascow, Absolute Begginers, mundo onírico, Lovecraft tem muita informação pra pouca página minha cabeça vai...
Quando você está lendo a história você tem a sensação de que perdeu uma parte do filme e está acompanhando de um ponto mais adiantado da história. Você perdeu aquele blockbuster com todos os grandes atores e alto orçamento e está vendo um filme com orçamento reduzido e sem grandes atores no elenco. São muitas informações para poucas páginas. A história é uma Brainstorm com ótimas idéias e o direcionamento dado a elas por Renato Medeiros e Rodrigo Xavier definiram a história como sendo mais de Sci-Fi do que de terror. A ambientação fria e direta como o hospital, os termos científicos empregados na história e o modo como os personagens lidam com o que está acontecendo leva para este caminho. Não há muita sutileza e tudo é mostrado diretamente ao leitor acompanhado de muitas informações. Penso que as vezes é melhor uma informação bem trabalhada do que várias sem muito tempo para desenvolvimento apresentada de forma superficial. E a atmosfera de medo e tensão se perdeu nisso tudo dando prioridade às explicações. Houve um desenvolvimento muito foda no início mas a narrativa de quadrinhos segue um pouco mais cansativa e arrastada com um ou outro momento legal. Se houvesse uma interação maior entre o Renato e o Rodrigo na narrativa da história dialogando mais o roteiro com a arte o resultado seria muito melhor. Alguns trechos poderiam ser encurtados com menos quadros e textos e outros poderiam ser alongados para beneficiar a narrativa da trama. É uma decisão bem pessoal dos autores o que fica e o que sai no resultado final. Espero ser surpreendido com mais fluidez na narrativa das próximas histórias da série.
Diversos teasers foram apresentados durante o lançamento da série
Rodrigo Xavier trabalhou muito bem as expressões faciais dos personagens e na identidade visual dos 3 principais personagens da trama (P.C. e o Estranho são os que apresentam identidades visuais mais fortes e reconhecíveis). Mas ainda precisa ser um pouco mais claro nas pessoas que não são da trama principal. Fica confuso de diferenciar as pessoas que estão no hospital pois são muito parecidas. Eu olho e me questiono: As pessoas que estão perto do homem em coma são as mesmas que estavam com ele no carro, ou são médicos? E estes dois caras que estão em pé perto da cama são irmãos gêmeos? São parentes do cara que está em coma? Se não são, parecem muito com ele. Até os caras que estão pegando fogo parecem muito com o homem que está em coma mudando uma ou outra coisa no rosto. Parece até que não tem ninguém naquele hospital e o que vemos ali são projeções corpóreas da mesma pessoa. Isto me dificultou bastante em ter algum tipo de empatia maior com a tensão que acontece no final. Faltou alguém com que eu pudesse me importar e identificar naquele hospital deserto. Já nas ambientações, ficou bem claro o que é sonho e o que é realidade na história. Gostei bastante da narrativa bem fluida apresentada no início e no final da história mas, acho que ela ficou um pouco mais dura durante o percurso com exceções em alguns momentos interessantes da trama. A arte final também ficou bem legal!
Já conhecem a página de Tempestade Mental no Facebook?
Renato Medeiros apresentou ótimas idéias dentro desta história. Como disse anteriormente, faltou um pouco mais de aprofundamento nos personagens da trama e mais diálogo com os desenhos. É idéia atrás de idéia e pouco tempo para respirar na história. Se eu soubesse um pouco mais sobre Cássio, P.C. ou o Mateus eu me importaria mais se algum deles morresse na trama (e um dos três morre e eu não me importo). Cássio só deixa de ser uma caixa vazia de informações depois que entra no mundo dos sonhos. Dá pra perceber que a dinâmica de Cássio com o P.C. muda bastante no final . Eu só passo a me importar com este personagem depois disso, pois ele passa a ser uma pessoa real e crível pra mim. E a dinâmica entre os dois é algo legal que deve ser aprofundado em futuras histórias pois ocorrem coisas com eles antes e depois de Gênese. Se fosse mostrado como a influência de Mateus no mundo dos sonhos afeta a realidade iria haver um pouco mais de impacto e ia ser mais claro sua real ameaça e poder. Ao mesmo tempo que outras coisas podiam ser mais aprofundadas outras poderiam ser mais ocultadas. A idéia do estranho é algo assustador por si só se parar para pensar. Quanto menos é mostrado dele mais assustador ele se torna pois ele representa ali o desconhecido. E o desconhecido é algo a ser temido. Estes são só alguns pontos entre tantos outros que podem ou não ser abordados futuramente que não foram mostrados profundamente devido à narrativa rápida das 34 páginas da Graphic Novel. A história como um todo foi legal de ler mas é preciso ter um pouco mais de atenção na narrativa pois texto e arte nos quadrinhos devem dialogar juntos. É preciso ver qual o momento certo para tirar um texto desnecessário que não acrescenta em nada uma arte que já diz tudo o que é preciso dizer.
Aqui estou eu junto com a equipe criativa da revista Renato Medeiros e Rodrigo Xavier
Foi uma leitura divertida pra mim! Me senti como se estivesse vendo um daqueles filmes de terror B, Z, ou Trash que curto muito como Scanners do Cronemberg, um filme bem legal que tem lavagem cerebral com uma maçã e uma motosserra que não lembro o nome que passava no Cine Trash (se vocês lembram, me lembrem) ou o Eles Vivem. Talvez se os autores seguissem por outro caminho eu achasse algo tedioso e pretensioso demais. É uma série que vou acompanhar com certeza, pois os assuntos abordados são interessantes é algo bem alternativo e possui forte presença de ficção científica/terror na trama. É difícil não gostar de algo que tem em seu DNA tantas referências a coisas legais que gosto. para acompanharem de perto também a série Tempestade Mental, visitem a página no Facebook neste endereço eletrônico: https://www.facebook.com/TempestadeMental. Esta é a segunda revista publicada pelo selo K-Ótica este ano e outras publicações estão por vir como o Lovenomicom e a segunda edição de Condenável. Não vou comparar a revista com o Evangelho Segundo o Sangue (vou falar sobre esta HQ em Outubro), pois considero o ápice do selo, mas a revista é bem mais interessante que Condenável. E existe um potencial enorme em Tempestade Mental para boas histórias. As idéias foram lançadas nesta edição com muitos caminhos em aberto para seguir. Renato e Rodrigo são como o Cássio e o P.C.: não se entendem muito bem no início mas, no final cumprem sua missão e estão no mesmo carro com todo um caminho pela frente. E pela frente uma nova Tempestade se aproxima...
Fever Ray- Dry and Dusty
Tempestade Mental: Gênese
Uma publicação do selo K-Ótica lançada em Maio de 2014
Roteiro: Renato Medeiros
Arte: Rodrigo Xavier
Letras: Equipe K-Ótica
Nenhum comentário:
Postar um comentário