quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Crônicas de Piápolis- Volume 01

 

Finalmente estou atualizando as postagens com minhas leituras de quadrinhos e livros. É um novo ano, e tenho muita leitura pra falar por aqui. Principalmente os quadrinhos independentes que compro ou ganho em eventos como o FIQ. Falando em FIQ, durante o evento de 2015 eu dividi a mesa com o pessoal de bom coração do Projeto Chroma. O FIQ foi um evento maravilhoso e eu até perdi e encontrei minha câmera com tanta coisa acontecendo. Um dos autores do Chroma que conheci na mesa foi o Alexandre Garcia, autor de Crônicas de Piápolis. A revista é uma HQ indicada para adultos, não que tenha muita violência e sexo, mas é preciso de uma certa maturidade para compreender mais profundamente as questões sociais presentes nela.

 Alexandre Garcia e Joseniz, o Autor em Crise

"Ói, Cabra, um bom passeio pelas páginas (e ruas) de Piápolis! E não perca a câmera!" (Alexandre Garcia)

Mapa mostrando onde fica a República Federativa de Piápolis (e a sua estilosa bandeira)

A ilha onde fica a República Federativa de Piápolis é localizada na América do Sul, possui graves problemas sociais e a sua língua oficial é o Português. E aqui estou eu desembarcando na ilha com minha câmera passeando por Piápolis. Estou aqui no Centro Novo e é tudo bem limpo e elegante com muitas lojas, uma boa segurança e muito conforto. Mas não foi pra isso que vim pra cá! Eu vim para conhecer o Centro Velho que é onde respira a Arte (com a ajuda de aparelhos mas respira). Olha, não é muito diferente daqui de Natal não viu? Tem muita coisa foda em se tratando de arte e cultura mas ao mesmo tempo tem um descaso total com a parte histórica da cidade. Segundo os moradores do prédio Florença, lugar que fiquei durante o final de semana, a cada dia o Centro Velho morre um pouco seja por falta de políticas públicas, seja pelo aumento da criminalidade. É triste ver que Piápolis é um país que reflete bem os problemas do Brasil. Droga! Pegaram minha câmera! Desculpa, mas não vai ter mais registro fotográfico nesta postagem. Foi mal aí!

Sotero, Heloíza, Silas, Cao, Darci e o gato Miles. Moradores de Piápolis que se uniram em uma espécie de família


A revista apresenta três histórias. Na primeira história "A Última Sessão de Cinema" (a que mais gostei) Sotero e Heloísa tem que lidar com o fechamento do Cine Abaporu, que nos anos 80 foi um cinema luxuoso e muito frequentado. É uma boa história, apresentando um reflexo da realidade dos cinemas no país, com várias referências literárias, artísticas e cinematográficas (a começar pelo título da história que faz referência a um filme de 1971). A decisão de Hélcio sobre o destino final do Abaporu é um ótimo gancho/desfecho. A segunda história "O Tempo não cura" tem um fantasma do passado que volta para atormentar Silas e Heloísa. A história começa bem mas o problema aqui são os diálogos entre Silas, Heloísa e Sotero, onde muita informação é jogada de uma vez em poucas páginas o que não deixa os diálogos muito orgânicos (coisa que não acontece com outros personagens da história). Por fim, na história "Paraíso Infernal" temos uma sequência direta da história anterior focada em Heloísa. Aqui há um tempo maior de desenvolvimento da personagem Heloísa e, consequentemente os diálogos dela com Sotero ficaram bem melhores. O final apresenta bem o que está por vir nas próximas edições das Crônicas de Piápolis. Uma das coisas que não estão na revista e que poderiam surgir mais adiante nas crônicas, são as tiras do gato Miles Davis. Achei elas bem legais e com um traço bem limpo.

 As tiras de Miles Davis não estão na revista, mas é um extra bem legal da página oficial

O que mais me atraiu no trabalho de Alexandre foi que ele escreve sobre pessoas e situações do cotidiano. São personagens e situações críveis desde o porteiro até a família do edifício Florença. O único personagem que achei um pouco mais estereotipado foi o vilão das últimas histórias com direito a mordomo maligno e tudo. A arte de Alexandre é perfeita para o tipo de história que ele está contando me lembrando quadrinhos underground americanos. É uma arte suja e detalhada ao mesmo tempo perfeita para falar de uma país com personagens underground. A arte-final ajuda a compor cenas belíssimas como a Splash Page de "Paraíso Infernal". Ao mesmo tempo, ela mata a dramaticidade de outras histórias como nas duas primeiras páginas de "O Tempo não cura" e as duas últimas da já citada "Paraíso Infernal". A narrativa é fluente não tornando a leitura cansativa e os personagens possuem identidade própria com boa composição visual nos gestos e expressões. A única coisa que não funciona muito bem são as cenas mais dinâmicas, onde os desenhos são duros demais e não passam a idéia de movimento. Um investimento maior no desenho dos cenários, arte-final e na perspectiva da cidade podem enriquecer mais ainda as crônicas nas próximas histórias. As letras são feitas a mão, o que dificultam a leitura muitas vezes. Elas funcionam melhor desenhadas nos cenários e cartazes da cidade. Já quanto ao design da revista, feito por Thiago Silva, apresenta um problema que identifico nestas revistas iniciais do Chroma. Elas apresentam uma unidade com um padrão de tamanho, selo na capa e contra-capa explicando o que é o projeto Chroma. Isso é bom, o problema é que quando elas ficam expostas não há uma diferenciação muito grande entre elas na questão de gênero e as Crônicas de Piápolis parecem ser mais um título de uma linha infantil ou de super-heróis do projeto. Outra coisa é que a contra-capa está mais bonita, chamativa e com uma composição melhor que a capa. A capa tem uma idéia legal e um bom desenho mas a diagramação (título, subtítulo, autor, selo da revista, aviso sobre a faixa etária e arte da capa precisam de uma composição melhor) e as cores não atraem muito. Talvez ela funcione com uma paleta de cores melhor sem parecer que foi pintada com caneta hidrocor ou mesmo em preto e branco. O projeto se chama Chroma as cores precisam de uma atenção maior. Quanto a revisão, ela é boa, não deixando passar erros graves de português como em outros quadrinhos independentes. O conteúdo interno é bem organizadinho com prefácio, histórias e biografia do autor (além da apresentação do Projeto Chroma na contracapa). Para conhecer melhor Piápolis (e ler as tiras do Miles Davis) visitem este endereço eletrônico: http://www.projetochroma.net.br/piapolis/index.html. Na próxima semana, falo sobre a minha segunda visita a Piápolis.

Crônicas de Piápolis- Volume 1

Uma publicação publicada em conjunto com o Projeto Chroma e lançada em Fevereiro de 2012

Roteiro e Arte: Alexandre Garcia da Silva
Edição, Revisão e Design: Thiago Silva

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