Faz tempo que apresentei esta encenação foi por volta de 2003/2004/2005... Não me lembro com clareza. Este texto para apresentação foi elaborado para uma disciplina do curso de Licenciatura em Artes Cênicas. A turma foi dividida em grupos e cada grupo teria que fazer uma apresentação de acordo com um teórico de teatro. Fiz este trabalho com minha dupla Michelle Ferret. Foi divertido o processo de construção da apresentação porque nós dois gostamos de Brecht e durante as conversas surgiram muitas idéias em comum e as que não eram complementavam uma a outra. Michelle deu ótimas soluções cênicas para a costrução das cenas à medida em que eu escrevia o texto da apresentação. O resultado final foi ótimo e o processo de construção também. Tempos depois este texto foi apresentado duas vezes em parceria com Rodrigo Bico (já que minha dupla estava indisponível porque estava em outro processo, não de encenação mas de gestação). Foi um trabalho diferente do que fiz com Michelle, tive poucos ensaios, foram outros espaços para apresentação e tivemos improvisações que não funcionaram e que funcionaram. Mas no final de tudo foi uma boa apresentação e, curiosamente, pouco tempo depois da apresentação em um evento do departamento de artes, houve uma reforma neste espaço. Fiquei conhecido por um tempo como o cara da xerox (sim, eu sei meu nome é complicado) e me senti bem melhor depois de ter feito as apresentações, mas me diverti muito mais na primeira apresentação que fiz junto com minha dupla. Com o tempo, muita coisa mudou mas, até hoje o departamento de artes não possui uma máquina de xerox à serviço dos estudantes...
DEART EM CRISE
Personagens: Aluno (Personagem Concreto), Consciência do Aluno (Personagem Abstrato) ,e personagens secundários que aparecem rapidamente
Espaço Cênico: DEART
Tempo de Duração: Varia
Figurino: Roupas pretas
Iluminação: Natural (Luz do sol, Chuva, o tempo que estiver fazendo).
Objetos utilizados na cena: Som, CD, Sacos plásticos, Prancheta, Papel, Caneta, Relógio, Livros
Autores do Texto: Joseniz e Michelle inspirados por Brecht (autor indireto)
Música: O bom e velho Chico Science através de seu CD.
Mensagem do Texto: Dê uma boa olhada no texto.O que você acha que ele quer passar?
Cena I: Os Zumbis.
Os dois personagens se encontram no chão encobertos por dois sacos plásticos pretos.
Entra a música de Chico Science (num.20 Samidarish)
Os personagens acompanhando o ritmo da música rasgam os sacos e começam a se levantar
Ao se levantar eles olham para as pessoas dos dois lados do corredor (Cada um olha de um lado)
Os personagens caminham como zumbis em direção de suas respectivas cadeiras para se sentar
Obs: No momento de se sentar os personagens deixam de se movimentar como Zumbis, se sentando de modo espontâneo, provocando uma quebra na cena,em seguida sai a música de Chico.
Cena II: Que maravilha! Estou na universidade.
Os dois personagens se encontram sentados em suas respectivas cadeiras
A consciência do aluno escreve em uma prancheta (Ela estará próxima a cadeira) com letras bem grandes: Primeiro dia no DEART
A consciência se levanta e mostra a placa ao aluno, e em seguida, ao público
O aluno reage a placa demonstrando, alegria
A consciência do aluno escreve em uma prancheta com letras bem grandes: Alguns semestres depois...
A consciência se levanta e mostra a placa ao aluno, e em seguida, ao público
O aluno reage a placa demonstrando, indiferença
A consciência do aluno escreve em uma prancheta com letras bem grandes: Perto de se formar
A consciência se levanta e mostra a placa ao aluno, e em seguida, ao público
O aluno reage a placa demonstrando...ele está dormindo
A consciência lê uma poesia de Brecht:
A EXCEÇÃO E A REGRA
Estranhem o não for estranho
Tomem por explicável o habitual
Sintam-se perplexos ante o cotidiano
Tratem de achar o remédio para o abuso
Mas não se esqueçam
De que o abuso é sempre a regra
A medida que a consciência lê o aluno caminha
Obs: No momento em que o aluno fala pela terceira vez “O abuso é sempre a regra” a consciência age.
CENA III: Cadê a xerox que o professor mandou você tirar?
A consciência age lembrando o aluno e o pressionando para tirar uma xerox
O aluno fica impaciente ao descobrir que no departamento de artes não tem xerox
A consciência continua pressionando o aluno
O aluno decide ir até a biblioteca
Obs:A consciência no momento em que o aluno decide ir biblioteca vai se sentar na cadeira passando a representar um deficiente físico,deixando de ser um personagem abstrato e se tornar um personagem concreto para esta cena.
CENA IV: A escada
O aluno caminha em direção à biblioteca
No meio do caminho ele se encontra com o deficiente físico
O deficiente físico pede ajuda ao aluno pra subir a escada e deixar um documento na secretaria
O aluno diz que vai ser difícil e fala da falta de planejamento de quem construiu a escada
O deficiente físico pede então que o aluno leve o documento para ele
O aluno concorda e segue para biblioteca
Obs:Após se despedirem o deficiente físico volta a fazer o papel de consciência do aluno
CENA V: A antiga biblioteca do DEART
O aluno chega na biblioteca
O aluno folheia os livros
A consciência do aluno age (fala dos livros antigos-1985? 1840?, espirra com poeira)
A consciência continua lembrando da xerox que o professor mandou tirar
O aluno decide pegar o secular (outro nome dado ao circular) para tirar xerox
O aluno tem um repente e decide ir primeiro beber água
Obs: A consciência passa a fazer o papel de uma pessoa qualquer
CENA VI: Onde é a Comperve?
O aluno se depara com uma pessoa qualquer que pergunta onde é a comperve
O aluno explica onde é, e se dirige ao bebedor
Obs: A consciência retoma seu papel pega o cartaz na prancheta com letras bem grandes: BANHEIRO INTERDITADO POR FALTA DE ÁGUA (Mas não mostra a placa ao público)
CENA VII: Água com gosto
O aluno fala que faz mais de duas semanas que faltou água no departamento
O aluno diz que a água tem gosto (falta água)
O aluno se dirige imediatamente ao banheiro
Obs: A consciência se prepara pra mostrar a placa ao aluno
CENA VIII: Banheiro
A consciência mostra a placa ao aluno que fica desanimado (e se segurando)
A cosciência mostra a placa ao público
A consciência lembra da xerox
O aluno decide ir pegar o secular e acabar com isso uma vez de todas
Obs: O aluno sai de cena e a consciência permanece no corredor
CENA XI: Secular
A consciência mostra o relógio ao público e adianta os ponteiros para indicar passagem de tempo
O aluno retorna
Obs: A consciência faz o papel de um secretário responsável pelas eleições
CENA X: As eleições
O secretário chama ao aluno para votar
O aluno reconhece o secretário e entrega o documento do deficiente físico
O aluno vota
O secretário diz que poucas pessoas votaram e que, as que votaram não sabiam nem quem eram os componentes da chapa,aliás eles nem sabiam quantas chapas tinham,...eles nem sabiam que tinha eleição...eles nem sabiam o que era um CA ou DCE.
O aluno e a consciência citam Brecht
O ANALFABETO POLÍTICO
O Pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo da vida, o preço do feijão, da farinha, do aluguel,
Do sapato, e do remédio dependem de suas decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia política.
Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado,
E o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto
E lacaio das empresas nacionais e multinacionais
CENA XI: Momento reflexivo
O aluno reflete sobre o que passou
O aluno fala das suas perdas e fala que todos estão preocupados com Deus.
O aluno mostra uma placa escrito DEUS com o EU bem destacado
Obs: Quando o aluno perguntar o que falta acontecer agora? Entra a consciência fazendo o papel de alguém do departamento
CENA XII: As coisas podem ficar piores
Alguém do departamento fala que o preço da carteira de estudante aumentou, e das reformas.
O aluno fala que agora vai ter que pagar pela incopetência e falta de responsabilidade dos outros
O aluno e a consciência citam Brecht:
O DINHEIRO
Ao trabalho não quero reduzir
Para o trabalho o homem não foi feito
Mas pelo dinheiro não se pode prescindir!
Pelo dinheiro é preciso ter respeito!
O homem para o homem é uma caça
Grande é a maldade no mundo inteiro.
Por isso junte bastante, mesmo com trapaça
Pois ainda maior é o amor ao dinheiro
Com dinheiro a você todos se apegam
É tão bem vindo como a luz do sol
Sem dinheiro, os próprios filhos o renegam
Você não vale mais que um caracol
Com dinheiro não precisa baixar a cabeça!
Sem dinheiro é difícil ter fama
Dinheiro faz com que o melhor aconteça
Dinheiro é verdade, dinheiro é flama
O que eu te disser pode acreditar
Mas sem dinheiro não busque seu mel
Sem dinheiro ela lhe será roubada
Somente um cão lhe será fiel
Os homens colocam o dinheiro a grande altura
Acima do filho de deus, o herdeiro
Querendo roubar a paz de um inimigo já na sepultura
Escreva em sua laje: Aqui jaz dinheiro
CENA XIII: O professor
O aluno vira professor e abre um livro e fala como se estivesse em sala de aula desanimadérrimo
A consciência fala :-E você ainda queria ser ator heim?
O aluno fecha o livro
Acontece uma última citação de Brecht
NADA DEVE PARECER IMPOSSÍVEL DE MUDAR
Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo o habitual.
Suplicamos expressamente.
Não aceiteis o que é de hábito como coisa natural
Pois em tempos de desordem sangrenta
Com ordem arbitrária consciente
Humanidade desumanizada nada deve parecer natural
Nada deve parecer impossível de mudar
CENA XIV: Acabou a peça vamos pra discussão?
Atores saem das personagens e fazem críticas destrutivas ao trabalho realizado enquanto organizam as coisas.
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