domingo, 20 de dezembro de 2009

Batman, Descanse em Paz: Meia-Noite na Casa da Dor

O Cavaleiro das Trevas deve morrer! Esta é a primeira parte de seis especiais, que focam o arco de histórias: "Descanse em Paz", escrito por Grant Morrison, desenhado por Tony Daniel e publicado pela Panini Comics na revista mensal do Batman a partir da edição #80 em Julho deste ano.

Antes de seguir adiante, lembre-se que se você não chegou a ler Batman #80 posso estragar algumas surpresas. Lembrando também que irão surgir matérias falando do passado do morcego nos quadrinhos, esta fala sobre o presente e logo mais irá surgir uma matéria sobre o futuro.


Lulu Santos- Como uma Onda

O Universo DC é um universo muito ligado à cronologias. De tempos em tempos a DC cria crises com o intuito de zerar cronologias e apagar eventos de personagens para reapresentar seus personagens a uma nova geração. Algums personagens tem sua origem alterada tantas vezes que você não sabe mais quem é aquele personagem. Felizmente, o Batman não teve sua origem muito alterada e é u dos poucos personagens da DC que você pode pegar uma revista para ler e entender a história sem muitos problemas com a questão da cronologia. Os roteiristas que pasaram pela revista do Batman não alteraram muito a linha cronológica do herói e situações traumáticas que surgiram em sagas e histórias específicas não foram descartadas. O arco de histórias Descanse em Paz é uma destas histórias que você não precisa ler todas as edições anterioes do morcego para entender, mas ela está ligada não apenas a todas as histórias do Morrison, como também toda a cronologia do morcego e uma das coisas divertidas na leitura é ir encontrando estas ligações.

A abordagem de Grant Morrison para Batman é a seguinte: Nenhuma das crises apagou da memória do Batman as histórias que ele viveu desde Maio de 1939, quando ele fez a sua primeira aparição. Ele viveu todas aquelas histórias. Os 70 anos de histórias que ele teve, dentro de sua cronologia se passou num período de 15 anos. Morrison não descartou eventos como o uso de armas no começo de carreira, o Batmirim, o clube dos Batmen internacionais com a participação do grande Gaúcho da Argentina e nem o filho que o Batman teve com Tália Al Ghul na história "O Filho do Demônio" foi descartado. Tudo isto de fato existiu e faz parte da vida do morcego.


É Bruce Wayne recebendo impacto de evento traumático, atrás de evento traumático durante 15 anos! Muita coisa aconteceu com ele neste curto espaço de tempo. E o começo de tudo foi presenciar o assassinato de seus pais pelo criminoso Joe Chill quando criança. Todos estes eventos são muita coisa para mente de um homem comum suportar. Para tentar manter o controle sobre si mesmo e enfrentar as suas trevas interiores, Bruce Wayne se submeteu ao Thorgal, a mais alta experiência de meditação na tradição do budismo tibetano em Nanda Parbat, onde ficou trancado em uma caverna por mais de um mês. E ele saiu de sua caverna como uma pessoa renovada.

A história se inicia com uma página icônica mensagem "Heróis morrem, lendas vivem para sempre". A trama retorna seis meses no tempo, onde somos apresentados à um grupo de pessoas misteriosas, perversas e poderosas: A Luva Negra liderada pelo Dr. Hurt. A Luva Negra já apareceu anteriormente em uma das histórias do Morrison quando um vilão mascarado de mesmo nome, que ainda não foi revelado se era o Dr Hurt mas tudo indica que sim, atacou ferozmente o clube de heróis internacionais e tentou matar o morcego. Nesta edição fica claro que o poder da Luva Negra era algo bem maior do que se imaginava.


Além de aproveitar conceitos de histórias do Batman ao longo de 70 anos Morrison inseriu diversos elementos novos nas suas histórias. Um deles é apresentado nesta edição: O novo Batmóvel. Nele Batman e Robin,Tim Drake, o terceiro Robin que agora é filho adotivo de Bruce Wayne, saem em passeio fazendo uma ronda pela cidade. Não há mais grandes inimigos para serem derrotados, a constante vigilância do morcego fez com que Gothan City ficasse mais tranquila a única coisa que tem incomodado o morcego é a organização Luva Negra. Já o que incomoda Robin é saber se Damien, o filho de Tália e Bruce Wayne, é mesmo seu irmão e passar a morar na mansão Wayne. Esta relação familiar de pai e filho e ciúme entre irmãos também é muito bem explorada nas histórias de Morrison.

Outro elemento é a nova namorad do herói: Jezebel Jet que descobriu recentemente que Bruce Wayne é o Batman. A modelo de sucesso é a nova residente da mansão Wayne. Ela é bonita, rica, aventureira, apóia, incentiva e tem orgulho de Bruce Wayne em sua jornada como Batman. Depois de visitar o túmulo dos pais de Bruce Wayne e questionar sobre quando ele descobrirá que a jornada do Batman terminou, ela o informa de um convite enviado pela Luva Negra que os convida para participarem da dança macabra e o estimula a investigar juntamente com ela sobre o que realmente isto se trata.

A Dança Macabra está ligada a uma alegoria praticada no fim da Idade Média no século XIV sobre a universalidade da morte. Esta representação cênica surgiu sobre o impacto da epidemia da Peste Negra na Europa que matou cerca de um terço da população. Não tinha a mínima importância se você era rei, príncipe, camponês ou escravo isto não iria impedir ninguém de ser vitimado pela peste. A peste lembrou as pessoas que não importa seu estatus social, ou os bens terrenos que possuíam, suas vidas eram frágeis e no final a Dança da Morte iria unir a todos. Na Dança da Morte, a morte era personificada sob a forma de esqueletos, que ao som de tambores, ritmados como batidas do coração, dançavam e guiavam as pessoas independente do estatus em uma longa caminhada para os seus túmulos. A dança também servia como um pedido aos deuses pelo fim da peste.


Dança Macabra

A Luva Negra é como a Peste Negra. A sua existência assusta, ela existe para lembrar que até mesmo o Batman está sujeito à morte, ela cresce se espalhando com uma faciidade enorme e ninguém escapa de seu toque fatal. A arte de Tony Daniel é uma das melhores que já fez para revista do Batman e cumpre bem seu papel narrativo, sobretudo nas últimas páginas. Mas acho que o arco final seria bem mais simbólico se J. H. Willians III, que fez uma ótima representação do que a Luva Negra é em outra história do Morrison, ou Alex Ross, que faz as ilustrações da capa deste arco final, ficassem responsáveis pela arte. A Luva Negra pode não aparecer em um confronto direto com o morcego nesta história mas a sua presença é sentida, e ela é agourenta.


Batmacumba êê

E finalmente a história se encerra com a aparição do Coringa, uma nova encarnação do Coringa bem mais assustadora e cruel do que o habitual nas histórias do morcego e com direito às cicatrizes abrindo um sorriso em seu rosto. Na verdade, este Coringa é, e ao mesmo tempo não é, o mesmo que Morrison apresentou em Asilo Arkham. Morrison resgata a idéia de supersanidade do Coringa que para satisfazer uma necessidade de sobrevivência faz com que ele crie uma nova personalidade e se reinvente de tempos em tempos. E como uma largata presa em sua crisálida um Coringa repleto de personalidades anteriores buscou dentro de si uma nova personalidade adequada aos tempos atuais, e criando asas em um novo sorriso ele rompe a crisálida de sua mente e surge sob uma nova forma.


Quando se fala de fases e personalidades que os personagens tiveram, é uma metalinguagem usada para falar do modo como os roteiristas e desenhistas viam os personagens ao longo das décadas. Neil Gaiman já utilizou isto em uma história do Batman, e não é uma metalinguagem extrema de Morrison como ele fez em Homem-Animal, mas não deixa de ser interessante. Batman e Coringa continuam se antagonizando nesta última história, os dois meditaram e buscaram dentro de sua mente uma forma de lidar com todas as histórias que viveram e seguirem em frente cada um à sua maneira. O herói e o vilão irão se confrontar uma última vez. Os preparativos e os convites para Dança da Morte do Batman já foram feitos.


Batman- Batusi

Desde o começo esta história tem uma atmosfera de despedida. O que o Batman está enfrentando é um inimigo comum a todos nós: A morte. Ela está sempre nos rodeando, levando amigos e familiares embora e quando menos se espera se aproxima da gente. O cansaço, a fadiga, o peso do tempo em nossos corpos insiste com todas as forças que a gente se entregue ao desejo de descansar. O máximo que podemos fazer no momento é lutar para afastar este inimigo invencível, este momento em que decidimos lutar e viver nossa vida completamente e afastar este inimigo imbatível é tudo que precisamos para Descansar em Paz.

Namastê

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